26 de outubro de 2010

VI FESTIVAL DE TEATRO CELEBRA O SONHO QUE NÃO ACABOU


Sem dúvida, o teatro nesta cidade, Euclides da Cunha, ajudou, na última década, a dar relevância e cor ao cenário cultural da região que, por displicência governamental ou – quem sabe? - pouco interesse dos seus moradores, avança vagarosamente. Mas avança. Resultado disso foi a sexta edição do Festival de Teatro de Euclides da Cunha. Ele, o Festival, foi uma ocasião do bom encontro. Assim como deve ser um encontro para se festejar os anos de alguém. O festejo e a casa eram da Companhia Teatral Farinha Seca, que organizou a celebração no mesmo lugar do seu parto, o auditório do Educandário Oliveira Brito. Lá, no dia 27 de março dos anos 2000, nasceu e tomou corpo.

Desta vez, o evento recebeu requinte, ficou mais arrumado. Outras pessoas, de outros lugares, puderam participar e, ainda, artistas que não tinham se apresentado por aqui, fizeram com que a calmaria de uma cidade interiorana se tornasse mais viva, festiva e dinâmica. Outros espectadores, cujos gostos variavam conforme a sua predileção, assistiram a peças de teatro de ritmos, tons, linguagens e acordes diferentes.

Mesmo assim, por motivo óbvio ou desconhecido, o poder público, imprensa e representantes institucionais de cultura pouco compareceram. Listemos então algumas hipóteses para a sua ausência: medo de que algum ritual bacante suje a sua roupa-protocolo, o seu terninho ou o deixe despido; receio de que as suas fraquezas sejam reveladas por algum personagem pedante, falastrão, afetado; vontade de não chatear-se pelas bobagens que se mostram por 60 minutos no tablado; prefere novelas mexicanas a teatro; corre o risco de ser mais ator que os atores do teatro e roubar a cena, tomando os holofotes para si; porque o teatro é subversivo e pouco confiável... O repertório das possíveis explicações cresce conforme a grandeza que foi o VI Festival.

Ora, um evento que reúne plateia diversa, artistas, convidados, amigos, consumidores, turistas não poderia ser tão insignificante quanto parece quando se pensa nos faltosos. Cerca de 1.500 espectadores estiveram na sala das apresentações, mais de 150 artistas inscritos, representantes de universidades, 60 participantes da comunidade e atores interessados nas oficinas de teatro, e a falta dos nossos representantes políticos e culturais!

E foi neste mesmo lugar que os interessados puderam conferir o destaque de grupos premiados pelo Troféu VI Festival de Teatro de Euclides da Cunha. Desde quinta-feira, 14, a Comissão Julgadora avaliava apresentações e, domingo, 17, revelou aos participantes da Mostra Competitiva os indicados, vencedores e as menções honrosas (categorias que não estavam contempladas pela premiação).

Os vencedores - Ator Coadjuvante: Alex Costa (A Greve do Sexo); Atriz Coadjuvante: Tatiane Batista (A Greve do Sexo); Ator: Adalberto Bernardo (Bregas & Chiques); Atriz: Dirna Ribeiro (Bregas & Chiques); Direção: Nielson dos Anjos (A Greve do Sexo); Espetáculo: Melelego (Grupo Ser-Tão Guerreiro). As Menções Honrosas - Categoria Direção: Milton Ribeiro (Espetáculo Vertentes do Sertão |Grupo Sisal Trupe) Categoria Elenco Mirim (Espetáculo Vertentes do Sertão | Grupo Sisal Trupe).

Houve, na noite da Premiação, a leitura da Carta da Comissão Julgadora ao VI Festival de Teatro de Euclides da Cunha que dimensiona a importância de uma produção desse vate. Diz: “Uma iniciativa deste gabarito, desta natureza, nesta terra que nos acolheu com tanta delicadeza deve ser louvada num coro uníssono, nosso coro de boas incelenças, aedos e ditirambos entoados aos realizadores desta celebração dionisíaca, e brasileira, e nordestina, e baiana, e sertaneja”, escreveram Roberto de Abreu, Yuri Tripodi, Alex Silva, Ricardo Fagundes, Erika Silva e Jorge de Brito, os jurados.

Ainda se deseja, diante destas afirmações, que estes artistas fiquem relegados aos estereótipos de ‘sertanejos, os coitadinhos’ e recebam esmolas, ajudinhas?!

E que, por dignidade, o bom respeito e valor se deem porque são eles cidadãos, arquitetos do sonho e não por serem eleitores, e nem sequer pensem em abusar da delicadeza e da sensibilidade da transgressão de um artista. Assim seja.

Um comentário:

Anônimo disse...

São depoimentos como esse que me fazem ter certeza que escolhi o caminho certo!
Cátia Garcez