26 de maio de 2009

Farinha Seca engasga


Este ano está sendo marcado com diversos acontecimentos em minha vida. Tantos diferentes e inovadores... um deles foi a I Mostra de Theatro Livre de Euclides da cunha, Projeto Casa de Farinha.

Como em qualquer meio artístico, existem falhas e carências. Uma delas é a falta de patrocínio - que daria conforto ao nosso trabalho -, uma vez que não temos produção e tudo cai em nossas mãos, mas isso que cito não é reclamação, sendo que fazemos teatro por amor. Senhora dos Afogados ocorreu primeiramente numa terça-feira (21), para convidados de um modo geral, amigos, gente de teatro, familiares e afins, além dos patrocinadores. E, como de praxe, muita gente faltou, mas mesmo assim a pré-estreia ocorrera divinamente bem, contamos com a presença ilustríssima de gente querida, de familiares e uma grande amiga de Camaçari, Laíra Alves, que nos é de um grande apreço.

Dia 25 (Sábado), houve nossa primeira apresentação para o público aberto e gratuitamente, houve casa cheia e gente brigando do lado de fora para entrar. Decidimos então pôr o espetáculo em cartaz durante os sábados e domingos do mês de Maio. E lá fomos nós, empolgados de tudo.
Mas o público em sua maioria era de fora, e nosso público euclidense indo cada vez menos. Preocupamos-nos... Seria o preço? _ mas como, se é praticamente uma esmola o ingresso por apenas R$: 2,00. Seria a localização? Não, o lugar é aconchegante e no centro da cidade. Ah, então a peça é ruim? Não, também não, fizemos pessoas chorar, fizemos pessoas sorrir e retornar a assistir além de presentes recebidos e elogios em cada canto.

Mas o que será? Seria olho gordo dos que não têm espaço e tentam usurpar o nosso? A inveja? O agouro? E tantas outras barbaridades...

Senhora dos Afogados de Nelson Rodrigues, o III Ato, foi assistida por diversas pessoas e idades variadas acima de 16 anos, muita gente de outras cidades, mas o que falar dos que não compareceram? O que falar dos que dizem gostar de teatro e que até hoje em nossa penúltima semana não terem aparecido? O que falar desta gente? O que admirar? Nada, não é mesmo? A concorrência é pesada e é bom manter-se de boca calada.

Entre esse trajeto, fora dada uma entrevista no qual fora citada a falta de patrocínio e sensibilidade do poder público, sendo canceladas as outras mostras por falta de apoio. Depois do mesmo, houve reuniões, chamadas, resposta para a entrevista anterior e diversas outras coisas.

Quero enfatizar aqui, caro leitor, Senhora dos Afogados ocorreu sim, mas as outras mostras (Patativa do Assaré, Oswald de Andrade, Machado de Assis) não ocorreram por falta de apoio. Deixo aqui minhas palavras sobre este assunto, pois existem “interesses“ de apoio, mas onde estão? Quando fora solicitado o revestimento para o cenário (50 Metros de tecido Oxford) ocorreu o questionamento:

- Aqui Alfredo Jr, já basta? Já basta para o ano todo. Pare de chorar. (Ironizaram) Dar nomes não é de meu feitio, uma vez que o mesmo está “tentando” fazer seu trabalho em “off” para a divulgação dos resultados quando tudo for encaminhado para seus lugares devidos.

Esperemos.

Desejo sorte para aqueles que “tentam”. E Merda cada vez mais para nós, seres excluídos para uns, adorados para outros, inimizados para tantos; nós que respiramos e vivemos por essa doença chamada teatro.

Em conversa com meu diretor Alfredo Jr, ele me falara sobre uma conversa dele com uma colega de trabalho:

- Se tanta gente tem raiva da Farinha Seca e de você, obviamente deve ser porque vocês que estão errados.

E ela está certa. Ou não? Vixe, que pergunta...

Todos os atores trabalham exceto eu (Carla Soares), mas faço faculdade em PE, os outros também fazem faculdade e têm suas vidas fora do teatro, mesmo assim, ensaiamos diariamente, inclusive em feriados e finais de semana. Não temos horário de saída. Nós amamos quem nos assiste e quer assistir mais uma vez e sempre mais. Onde atuamos, sempre retornamos, nosso público é o maior que eu já pude conhecer nessa minha estrada de sete anos, gostamos de boa música e não julgamos quem gosta do que não nos agrada. Assistimos arte de todas as formas, cultuamos as artes faladas, atuadas, desenhadas e escritas... Temos o dom de despertar no outro a vontade de dias melhores com mais vontade de viver. Temos o dom ou a desgraça de fazer gente sorrir e chorar, temos o dom de escrachar e não temos medo de falar o que achamos dos que tentam pintar com o pé sem obter sucesso.


Deve ser isso...

Farinha Seca engasga!



CARLA SOARES

Um comentário:

Laíra Alves disse...

Não posso negar que depois de muito tempo de vir aqui, tenho lágrimas nos olhos após ler as recentes postagens. Tenho um orgulho tamanho de toda essa verdadeira FAMÍLIA Farinha Seca, que apesar da distância (geográfica), orguhosamente faço parte. Vocês são maravilhosos, e não precisam provar isto pra ninguém, pois têm o talento e a magia do teatro na essência. É uma pena realmente que hoje a realidade da cultura no Brasil, em suas diversas àreas e localidades seja a mesma, sem apois financeiros e de ações, principalmente para aqueles como nós, que buscamos a arte para mudar o mundo em que vivemos. Mas mudemos de assunto, pois não é por falta de ações dos governantes e outros que vocês deixam de brilhar. Tenho um absurdo carinho por todos vocês! Parabéns...