24 de janeiro de 2009

Alta noite


Diante do texto Memórias de uma puta triste de Cleilton Silva, tive a necessidade mais uma vez de postar aqui. A última quarta (21) fora maravilhosa e indescritível. Saí de minha casa as 17h30 em direção à casa de Alfredo, depois fui à rádio às 20h com Cleilton, Vinicius e Nael... Sendo que os meninos foram para suas respectivas residências, exceto eu, Alfredo e Cleilton, que fomos em direção à praça e ficamos no MEC TRIO. Depois de algumas bebidas, já ríamos de tudo, sobretudo eu. Uma excitação tomava conta do meu corpo como se obtivesse a necessidade de estar naquela noite compartilhando de absolutamente tudo, da praça quase vazia, do céu negro, do calor quase que enlouquecedor. Saímos do local em direção ao “Pau Miúdo” (Risos). Depois de entrar em becos e sair deles, encontramos um lugar em meio à noite escura e tão alegre que se iniciara as 21h daquele dia. Já se passara da meia-noite e nós sucumbíamos de tanto prazer de viver cada pedacinho daquela noite. Entramos numa casa visivelmente familiar e era - por que não? - família formada com pai e mãe e filhas e filhas.

Poliana e Gelma (Jamile) como gostava de ser chamada, filhas da noite, da dor, do sexo da amplitude da carne. Com decepções amorosas e mentiras para aliviá-las. Entrevistamos esta última, mulher com aparência seca e triste que se maquia todas as noites para disfarçar a dor de ter perdido a mãe com infecções nos rins, o sumiço do irmão ou o amor pelo único pai de verdade...

Ela escreve o que sente ou o que vê para passar a noite quando não se trabalha em quartos envoltos de solidão, ela não acredita no amor (mentira, penso) perguntamos tantas coisas e em minhas observações sensatas e bêbadas. Creio que aquela dura mulher que se sentou à nossa mesa com um caderno cheio de letras de sonhos ou realidades não queria conversar a não ser poder “viver”. Ela foi para o balcão, serviu uns clientes que lá chegaram e tirou fotos exuberantes com uma forçação de barra para si mesma; disfarçou mais uma noite a dor de não se pertencer, de não governar-se e celebrou com cerveja. Mas na dela, sem mostrar ser da noite e disfarçando ser dela.

Fomos embora (Eu, Alfredo e Cleilton) às 3h da manhã de carona e riamos eletrificadamente, aceleradamente, bêbados de tudo, de todos. E tínhamos/ temos em mente a certeza e a conclusão mais do que nunca de um novo tema, de uma nova vida para o teatro...
Esperemos para o gozo final, ou melhor, esperemos o parto.


CARLA SOARES - Atriz


Foto: autor desconhecido.

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