28 de agosto de 2009

Águas de abril


Por Vinícius José*

Dia 1 de Junho de 2007 foi a estreia da peça A Máquina, um projeto independente dos atores da Farinha Seca intitulado: Projeto Pano de Boca. E nesse mês comemoramos dois anos de temporada por toda a região baiana. A Máquina ainda é motivo de alegrias e satisfações.

No final do ano passado, demos um tempo, um descanso pra repor as energias e assim pensar em outros projetos, o oposto do que já estávamos fazendo no momento, que seria colocados em prática. E, com isso veio a ideia de estudarmos textos de autores da nossa literatura como: Plínio Marcos, Nelson Rodrigues, João Ubaldo Ribeiro e outros.

Com estes encontros e desencontros, surgiu o experimento da obra de Nelson Rodrigues “Senhora dos Afogados” que nos deixou cair no esquecimento quanto à Adriana Falcão (autora do romance A Máquina).

O processo desse trabalho não foi nada fácil: vários problemas foram surgindo (como é de costume), mas superados. E graças às águas sagradas das senhoras perdidas no mar de Nelson, conseguimos estabilizar ordem no grupo, e com esses incômodos e estresses, suprimos os desejos e a solidão das personagens.

Não quero ser ríspido, mas com a saída de uma das atrizes, o projeto seguiu livre e interessante. Com isso, o diretor Alfredo de Lima Junior deu a liberdade de escolha das personagens, dividindo o processo em três oficinas. Durante essas oficinas foram feitas análises do ator e da personagem, e com isso foram reconstituindo cenas, jeitos, costumes, sentimentos, ambientes e corpos da família Drummond.
Já no processo das oficinas, as personagens foram escolhidas pelo diretor. Iniciou-se uma espécie de camuflagem obrigatória para o grupo, no intuito de estarmos mais próximos dos sentimentos das personagens.

O “Noivo” foi preparado por mim e aceito pelo diretor durante esses seis meses de experimento de Senhora. Para compor melhor e transparecer o que realmente o autor citava em cada passo dado às situações transcritas na obra, busquei filmes, livros, pessoas, ambientes. Uma personagem totalmente complexa e intensa e, às vezes, intrigante. Nesse caminho de criações e buscas, foi prazeroso aprofundar-me nos sentidos e suspiros familiares abstratos e sólidos dessa personagem.

Senhora-Vingança-Morte:

Uma família de tradições, fidelidades conjugais e marcada pelo desaparecimento de suas filhas. Os sentimentos começam a surgir, desestruturando as regras e a reverência da família. O amor e o ciúme que a filha Moema têm pelo pai Misael; a Mãe d. Eduarda) que começa a sentir o prazer de amar, por sua Inocência, agrega o sentimento de vingança do Noivo da filha; Moema que acaba colocando seu irmão Paulo em confronto com o pai, e pelo amor incondicional e compulsivo, impulsionando-o a assassinar o Noivo; Sabiá e o Vendedor de Pentes são as peças-chaves da história. Eles desvendam os mistérios de vingança, do desequilíbrio, do amor e do ódio da família Drummond.

O Projeto Casa de Farinha - I Mostra de Theatro Livre foi o ponto de partida para mostrar e experimentar as águas de ’’Senhora dos Afogados”. O lugar escolhido para apresentação do espetáculo, que não era nada comum, foi auditório do Sindicado dos trabalhadores Rurais no dia 25 de Abril de 2009, às 21 horas, com entrada franca, onde a Farinha Seca dava início aos estranhos hábitos e vivência escritos por Nelson.

O nosso objetivo maior era que o projeto trouxesse toda a inovação, ainda não vista nos palcos de Euclides da Cunha. Banimos completamente aquela tradição palco e espectador, buscando nesses lugares incomuns manifestar a arte proporcional de Nelson, e transformar o universo claro na escuridão catastrófica da história. Centralizando os atores em uma espécie de arena, o público participava como personagem transitivos dentro do espetáculo. Deixamos visíveis as trocas de roupas e objetos usados durante a apresentação, dando um ar de realismo às cenas, mas sem perder a sensação límpida e mística viva dentro do texto.

Foi gratificante e cativante o processo de elaboração desse projeto, serviu como base pra novas empreitadas que irão surgir. Particularmente, como ator, me fez amadurecer em cada apresentação realizada, e intensamente me envolvi, sem medo de ser mais um afogado. Os limites eram inexistentes na criação dos desejos dada pelo texto, e os desafios que a personagem atribuía a mim.

Queres a mim?

Morrerei nessas águas do doces...
 

* Vinícius José é ator da Farinha Seca.

13 de agosto de 2009

MUDANÇA DE RUMO

Refalando o dito anteriormente, sobre os novos projetos, ontem à noite, por volta das 19 horas, na casa do nosso diretor Alfredo Junior, recebemos a notícia da continuação da temporada Senhora do Afogados, que teria finda a sua aparição nos palcos e arenas da Baía por tempo indeterminado. Bem. Teremos vastas surpresas. Receberão trato compensado os figurinos de algumas personagens que tiveram a indumentária abalada pela baixa arrecadação de patrocínio quando, no auditório do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Euclides da Cunha, apresentamos a família Drummond sem o devido trato estilístico das roupas. A luz ajudou a esconder as imperfeições e rasgos dos longos vestidos negros e brancos das damas rodriguianas A continuação do projeto contará com a presença da peça noutra versão: caixa! Já que todo o projeto da peça tinha seu arcabouço apenas limitado às formações de palco enquanto arena. O experimento foi feito e deu bons resultados. Agora é esperar para o próximo ringue.... Um pouco distante da plateia, mas igualmente mítico e radical (não nos falta ego, só dinheiro!). Os ensaios serão noturnos e voltarão para o tablado do auditório do Oliveira Brito, onde dantes eram feitos. É isso e mais.

12 de agosto de 2009

URGENTE!

Este mês iniciaremos outra viagem. Digo: outro projeto. Hoje, como todos os dias, teremos uma reunião pouco protocolar para decidirmos os rumos do trem. Decidimos então por uma nova ordem nos trilhos da Farinha. Ainda sem datas para o novo aparecimento do grupo-quarteto, este blog voltará às suas atividades confessionais. E se não temos nos confessado aqui é porque <<Senhora dos Afogados>> nos atacou pelo rabo. Ficamos sem um tempo disponível, sem internet, sem ideia. E mês que vem, Gildinha (preta, preta, pretinha) tomará outros rumos por um período de quatro anos ou mais. Bem. Deixemos as despedidas para a partida.